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Em muitos lares do Maranhão, por mais que pudessem, famílias não têm como ficar em casa |
Há um entendimento geral, quase unânime, nas comunidades médica e científica, de que o isolamento social é a maior e melhor arma contra o covid-19, pois seria a maneira de evitar sua proliferação, já que haveria menos contatos de pessoas. Com base nesse princípio, o discurso do "fique em casa" ganha mais força, principalmente entre políticos e palpiteiros das redes sociais que hoje se encontram numa situação confortável e podem adotar esse modo de vida, e por serem assim, acham que a regra pode ser adotada horizontalmente.
Quem mora numa cidade como São Luís pode fazer um exercício mental para saber até onde o "fique casa" pode ser seguido à risca para diminuir o número de pessoas circulando para não haver aglomerações, observando uma foto aérea da zona compreendida entre os bairros do Renascença, Calhau, Ponta d´Areia e São Francisco (quem vive em outras cidades pode ter por base a parte mais vertical de onde mora), pois a quantidade de prédios - residenciais e comerciais - pode ser um indicador de quantas pessoas precisam sair de casa todos os dias.
Imagine, leitor, quantas pessoas trabalham diariamente, dia e noite, nessas edificações. E não se fala aqui somente de advogados, contadores, médicos, dentistas, psicólogos e outros profissionais que ocupam salas nos prédios comerciais, mas de porteiros, piscineiros, jardineiros, zeladores e outros que trabalham nos condomínios residenciais, pois são estes que se submetem a riscos de contaminação, em ônibus, vans ou mesmo a pé, para ir e vir do trabalho, a fim de garantir conforto e segurança de quem pode ficar em casa porque, além do salário garantido na conta todo final de mês, pode fazer quase tudo pelo computador ou um smartphone.
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Nestas edificações, muita gente que não pode ficar em casa, trabalha para garantir segurança dos habitantes |
Além destes trabalhadores, para ficar em casa, quem pode não prescinde de outros que desempenham suas atividades: motoristas e cobradores de ônibus, caixas de supermercados, padeiros, frentistas de postos de combustíveis, açougueiros, feirantes, caminhoneiros, entregadores de refeições e tantos outros que saem de casa, expõem-se a riscos e depois voltam para o convívio familiar sem a certeza de que retornou sadio ou não.
É importante verificar também a pressão que se exerce contra quem, para ficar em casa, tem de dividir com todos os membros da família, o único cômodo existente na casa. Imagine passar meio dia nesta condição!
O argumento não é para se contrapor ao que diz a Ciência e a Medicina, mas pedir um pouco mais de tolerância dos que se acham no direito de censurar e ser tão rude em seus xingamentos contra quem, sabe-se lá por quais dessas razões, não consegue ficar em casa. Resumindo: não é porque alguém pode, que todos podem.
Fica compreendido, portanto que o discurso do "fique em casa" não pode ser tão radical, deve ser o de "se puder e quando puder fique em casa", seguido de um agradecimento: "muito obrigado a você que está arriscando sua vida para que eu possa ficar em casa, pois devo estar lhe devendo minha vida"
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